Marcha em Equino (andar na ponta dos pés) é a alteração na qual a criança usa a ponta dos pés para caminhar, sem o contato do calcanhar com o chão  na fase inicial da marcha. Conhecida também como marcha equina, pé equino ou andar de bailarina. 

Durante o começo do aprendizado da marcha é comum a criança andar na ponta dos pés e isso não representa uma doença ortopédica. Em muitos casos o andar na ponta dos pés tem relação com a coordenação motora que ainda está em desenvolvimento e à medida que a mesma avança, a marcha tende a se estabilizar. Nesses casos, chamamos de Marcha em Equino Idiopática.

Entendendo as causas patológicas ortopédicas do andar na ponta dos pés

Como dito, a marcha em equino na maioria das vezes é de causa idiopática, ou seja, sem causas definidas. Não se percebe nenhuma alteração em exames físicos e neurológicos.

Em um número menor de casos,  existem condições médicas que podem estar relacionadas à persistência desta alteração no caminhar. São elas:

  • Encurtamento do tendão de Aquiles;
  • Paralisia cerebral;
  • Distrofia muscular;
  • Anormalidade da medula espinhal; 
  • Outras condições neurológicas.

O transtorno do espectro autista (TEA) não tem ligação direta como causa para andar na ponta dos pés, as crianças que desenvolvem essa condição andam com frequência desta forma pela estereotipia.

Existem duas causas patológicas ortopédicas que podem estar relacionadas com maior frequência à marcha na ponta dos pés. A primeira delas é o Encurtamento do Tendão de Aquiles. 

O encurtamento do tendão de Aquiles muitas vezes é evolutivo, por essa razão levam-se alguns anos para a confirmação do diagnóstico. Por isso, o exame inicial de algumas crianças é normal e evolui com encurtamento ao passar dos anos. Após o diagnóstico, o tratamento consiste em três etapas, que se diversifica conforme a idade e o grau de encurtamento do tendão.

A segunda causa é a paralisia cerebral (PC), distúrbio que atinge a habilidade da criança controlar seus músculos, resultante de malformações cerebrais que acontecem antes do nascimento durante o período em que o cérebro está se desenvolvendo ou de danos cerebrais que ocorrem antes, durante ou logo após o nascimento. A medula espinhal e os músculos em uma criança com paralisia cerebral são estruturalmente normais.

Diagnóstico

O especialista vai iniciar a avaliação  com perguntas relacionadas ao período da gestação e o desenvolvimento de algumas habilidades da criança. Alguns questionamentos como:

  • Se houve complicações na gravidez ou nascimento prematuro.
  • Idade que a criança tinha quando desenvolveu o andar, sorrir e sentar.
  • Período que começou a andar na ponta dos pés.
  • Uso de andadores.

Na parte física vai ser avaliado:

  • Como a criança caminha;
  • Capacidade que a criança apresenta em deixar o pé todo encostado no chão durante o caminhar;
  • Se existem anormalidades nos pés, incluindo diferença entre eles;
  • Diferença no tamanho das pernas, coxa e panturrilha.

Outros testes serão feitos pelo ortopedista pediátrico para avaliar a força dos músculos principais, verificação dos reflexos do seu filho,  entre outros, para diagnosticar se há alguma alteração no sistema nervoso que possa estar contribuindo para o caminhar na ponta dos pés.

Quando a alteração é idiopática, não vai ser possível identificar alterações em exames físicos ou no histórico médico, por esse motivo exames como raio-X, tomografia computadorizada e ressonância magnética, geralmente não são solicitados.

Tratamento

Existem duas formas de tratamento para o andar na ponta dos pés, tratamento cirúrgico e não cirúrgico.  

O método mais certo a ser utilizado vai depender de fatores como, idade da criança, doenças associadas e a capacidade de andar com os pés apoiados.

Tratamento não cirúrgico

Indicado quando o paciente consegue andar com os pés apoiados, pode ser feito de diferentes formas, dependendo de cada caso:

  • Fazer visitas regulares ao especialista, se a criança está andando por hábito ela pode voltar a caminhar normalmente por conta própria.
  • Aplicação de gesso, para ajudar a alongar os músculos e tendões. O tratamento perdura por várias semanas.
  • Uso de órtese para alongar os músculos e tendões, geralmente leva um período maior de tempo do que o uso de gesso. 
  • Uso de injeção de Botox para relaxar temporariamente o músculo da panturrilha, isso facilita que esse tecido se estique mais facilmente, podendo ser utilizado com a órtese ou o gesso.

Tratamento cirúrgico

É indicado o tratamento cirúrgico para a criança que já tenha idade superior a cinco anos, pois o tendão de aquiles e os músculos podem estar tão tensos que não é possível andar com o pé reto ao chão. O procedimento cirúrgico consiste em alongar os tendões para que o paciente tenha melhor função nos movimentos do pé e tornozelo e evite calos e dores futuras na parte da frente dos pés.

A cirurgia geralmente é feita em regime Day-Hospital (opera e recebe alta para casa no mesmo dia). Depois de finalizar o alongamento o especialista coloca gesso nas pernas da criança, por 4 a 6 semanas.

Quais são as consequências do andar na ponta dos pés por um período prolongado?

  • Dedos “em martelo”: deformidade causada quando o tendão responsável por esticar a ponta do dedo é lesionado.
  • Contratura da articulação tíbio-társica;
  • Fascite plantar: processo inflamatório ou degenerativo que atinge a fáscia plantar, uma membrana de tecido conjuntivo fibroso e pouco elástico, que reveste a musculatura da sola do pé, desde o osso calcâneo, que garante o formato do calcanhar, até a base dos dedos dos pés. 
  • Tendinite tibial anterior e posterior: o tendão tibial anterior é o principal responsável pela flexão do dorso do pé. Quando há excesso de tensão, esse tendão pode inflamar, causando a chamada Tendinite do Tibial Anterior. Já a Tendinite do Tibial Posterior está relacionada à pronação excessiva.

Como mecanismos compensatórios a criança pode manifestar as seguintes alterações posturais:

  • Hiperlordose lombar: curvatura excessiva da coluna vertebral para dentro do corpo. Causa desconforto e dor, podendo prejudicar a lombar e a cervical. 
  • Flexão de quadril;
  • Joelho recurvado em rotação externa da tíbia.

Em todos os casos procure sempre a ajuda de um ortopedista infantil, marque uma consulta para ter um diagnóstico correto e tirar todas as suas dúvidas.